terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Rasto.

Mostro-te dois dedos, e apenas dois.
Passo neles a língua. Sinto o meu sabor, a pele mais ácida do que esperava, fruto de suor, sabor a pensamentos sujos, crus, porque os pensamentos afinal também deixam marca no paladar.
Devagar, mostro-te o que a minha boca te quer fazer pelo corpo todo, com tempo. Vejo-te nos olhos a surpresa, a fome a nascer de repente, devoradora nesse brilho que tens na cara.

Deito-me sobre ti, a boca a centímetros da tua. Deixo que me sintas a respiração pesada, as palavras a adivinharem-se. Depois, muito lentamente, pouso os dedos em ti, e deixo que eles desenhem um rasto da minha saliva na tua pele. Começo nos teus lábios e desço, a sentir-te todos os poros, a despertar-te o corpo. Desenho-te o queixo, passo-os pelo teu pescoço e controlo a vontade de te apertar, de dar uma desculpa à tua boca para que solte enfim um gemido.
Continuo a descer, a ponta do indicador a desenhar o teu colo, o teu peito, cada fôlego teu a falar com a minha pele, directamente, sem intermediários. A tua pele e a minha, o teu corpo e o meu.

Só tu e eu.

Deixo-os descaírem pela tua virilha e sinto-te o corpo vibrar. Tenho tempo, gosto de te sentir o corpo assim, a tremer de ansiedade. Queres dizer alguma coisa, pedir? Não, não sou um animal... não, não escondo nada ao longo do dia. Sou só um homem, que te vê o fundo dos olhos e se sente tentado e livre para ceder aos instintos, totalmente, de uma única vez.

Faço-te esperar, entretenho-me à porta do teu corpo, a sentir-te cada esgar de ansiedade na cara.
E é então que entro em ti.

São dois dedos, uma fome inteira. Provocas-me com as tuas esperas, agora quero vingar-me. Quero deixar-me levar pelo ritmo que tenho guardado no corpo, só para ti. Se me sabes ler o olhar de cada vez que te olho, então já adivinhaste esta fome há muito tempo.
E é essa a fome que eu sacio agora, ao entrar em ti, os dedos com o sabor da minha boca a torcerem-se em ti, que me apertas, que me prendes no teu corpo. Sabes que te quero fazer gemer, que te quero ver os olhos em desespero, a brilhar de gritos mudos, sorrisos de carne, lascivos, devoradores. Não vou parar, quero deixar o meu corpo solto para abusar do teu.

Depois sim, é a tua vez. Deixo-te pedir o que quiseres.
Pede.