sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Do suor.

Há em mim um suor antigo que o meu corpo não consegue expulsar. Vive nas profundezas da minha carne, na mais funda e escondida parte de mim.
Tenho na pele rios escavados, secos de uma espera velha. Na boca, há palavras escritas num papel que já não existe. Repito-as todas as noites, vezes sem conta, numa raiva que a cada hora aumenta um pouco mais. Uma fome de vingança por ofensa nenhuma que me torna o corpo voraz e a mente cruel.
Há uma língua que se quer apertar em ti, torcer devagar em ti, transformar o teu corpo em algo tão maleável, tão ágil quanto ela. Uma doçura na voz que se derrete nos teus ouvidos, derrete-se de calor, de medo, de cansaço, de uma raiva que não consegue controlar.
Há em mim um suor antigo que o meu corpo não consegue expulsar, e hoje sinto-me afogado nele.