sexta-feira, 21 de novembro de 2008

O pedido

A ti, que desejas este corpo sob a força das tuas ordens, mostro-te a boca com que me ordenas. São estes os lábios que vejo quando me torturas com as tuas esperas, quando libertas a minha fome de Homem à mercê das tuas provocações, dos teus jogos de sabores salgados, acres, viciantes. É esta a boca sussurrante ao meu ouvido, os lábios que falam as palavras que troçam do meu corpo tenso. Tão tenso como está agora, com a imagem do teu sorriso de predadora escondida a corroer-me a cabeça e a sanidade.
Tu, que és personagem de uma história entre histórias, tens a obrigação de saber que as histórias não se encomendam, não se pedem... mas corromper assim o corpo de um homem que escreve dá resultados bem mais interessantes, que vão muito para lá das meras palavras.
Pela força da imagem desta boca que agora é a tua, concedo-te nas minhas últimas palavras a vitória:
Sim, quero forçar-me na tua boca, deixar-me prender na tua garganta... transformar-te os gritos de satisfação em urros mudos que me façam vibrar o que de mais cru e animal há no meu corpo. Sinto uma fome cega de te foder.
As histórias não se compram, não se encomendam... mas os corpos adoram deixar-se corromper.