segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Segreda-me

A partir de uma certa hora senti a fome chegar-me ao olhar, o corpo a endurecer. Olhei cada uma das caras à minha volta, os gestos dos corpos a revelarem os segredos de cada uma daquelas intimidades.
Percorri o espaço de um lado ao outro, devagar. Cada toque de cabelo me despertava o corpo. Apetecia-me tê-los a tocarem-me ao de leve o peito, a deixarem-se agarrar na minha mão, a servirem de rédea para um corpo a arder de gritos, de fome, de prazer.
Tive olhares a pousarem no meu e a fugirem imediatamente. O olhar de um homem que se sente capaz de tudo é afinal capaz de desviar os olhos mais seguros, pertençam eles a que cara for.
Procurava olhares que me desafiassem, que não fugissem de mim, corpos que se deixassem tocar, provocar, peles que sussurrassem devagar à minha. Senti gemidos, pedidos, gritos a insinuarem-se nos meus ouvidos.
Mas não senti o animal em mim ser realmente acordado: não houve um desafio real, um olhar que desafiasse o meu, um corpo que me retribuisse a fome de domínio com domínio.
Procuro uma luta, um desafio, um corpo que me provoque a alma e o físico até ao limite, até me deixar a gritar, a pedir.
Quem és tu?